As musas são deusas gregas ligadas à inspiração. Para os antigos gregos, toda forma de criatividade vinha dos deuses, fosse um poema, uma música, uma obra de arte ou um estudo científico. Essa ideia continuou mesmo após o fim da civilização grega, ainda hoje é comum ouvir que alguém teve uma ideia tão boa que foi “inspirada por deus”, “por um anjo”, etc.

As musas são as cantoras divinas, cujos coros e hinos alegram o coração de Zeus e de todos os Imortais

As Musas pertencem originariamente à família das ninfas: são as fontes inspiradoras que comunicam aos homens a faculdade poética e lhes ensinam as divinas cadências. O seu número tem variado bastante segundo os tempos e as localidades; mas primitivamente eram apenas três, Melete (A Meditação), Mneme (A Memória) e Aoide (O Canto). Habitualmente são nove irmãs que Hesíodo diz terem nascido de Zeus e Mnemósina, a Memória. “Na Pieria, Mnemósina, que reinava sobre as colinas de Eleutério, unida ao filho de Crono, deu à luz essas virgens que proporcionam o esquecimento dos males e o fim das dores. Durante nove noites, o prudente Zeus, deitando-se no leito sagrado, dormiu ao lado de Mnemósina, longe de todos os imortais. Um ano depois, tendo as estações e os meses percorrido o seu curso, bem como os dias, Mnemósina deu à luz nove filhas animadas do mesmo espírito, sensíveis ao encanto da música e trazendo no peito um coração isento de inquietações; deu-as à luz perto do pico elevado do nervoso Olimpo no qual elas formam coros brilhantes e possuem pacíficas moradas. Ao seu lado, postam-se as Carites e o Desejo nos festins, em que a sua boca, expandindo amável harmonia, canta as leis do universo e as respeitáveis funções dos deuses. Orgulhosas da belíssima voz e dos seus divinos concertos, subiram ao Olimpo; a terra negra ecoava-lhes os acordes, e sob os seus pés se erguia um ruído sedutor, enquanto elas rumavam para o autor dos seus dias, o rei do céu, o senhor do trovão e do raio ardente, o qual, poderoso vencedor de seu pai Crono, distribuiu equitativamente entre todos os deuses as incumbências e honras. “Eis o que cantavam as Musas moradoras do Olimpo, as nove filhas do grande Zeus, Clio, Euterpe, Talia, Melpômene, Terpsícore, Erato, Polímnia, Urânia e Calíope, a mais poderosa de todas, pois serve de companheira aos veneráveis reis. Quando as filhas do grande Zeus querem honrar um desses reis, filhos dos céus, mal o vêem nascer derramam-lhe sobre a língua um delicado orvalho, e as palavras lhe fluem da boca como verdadeiro mel. Eis o divino privilégio que as Musas concedem aos mortais.” (Hesíodo).

As Musas eram respeitadíssimas e o talento dos artistas tido como dom das nove irmãs. Nas suas estátuas, liam-se inscrições como a seguinte : “Ó deus, o músico Xenocles mandou erguer-vos esta estátua de mármore, monumento da gratidão. Todos dirão: ‘Na glória que lhe proporcionou o seu talento, Xenocles não se esqueceu daquelas que o inspiraram’.” (Teócrito).

Após a derrota dos Titãs, os deuses pediram a Zeus que criasse divindades capazes de cantar condignamente a grande vitória dos Olímpicos. Zeus partilhou o leito de Mnemósina durante nove noites consecutivas e, no tempo devido, nasceram as nove musas. Há outras tradições e variantes que fazem delas filhas de Harmonia ou de Urano e Geia, mas essas genealogias remetem direta ou indiretamente a concepções filosóficas sobre a primazia da Música no universo. As musas são apenas as cantoras divinas, cujos coros e hinos alegram o coração de Zeus e de todos os Imortais, já que sua função principal era presidir ao Pensamento sob todas as suas formas: sabedoria, eloqüência, persuasão, história, matemática, astronomia. Para Hesíodo, são as musas que acompanham os reis e ditam-lhes palavras de persuasão, capazes de serenar as querelas e restabelecer a paz entre os homens. Do mesmo modo, acrescenta o poeta de Ascra, é suficiente que um cantor, um servidor das musas celebre as façanhas dos homens dos passado ou os deuses felizes, para que se esqueçam as inquietações e ninguém mais se lembre de seus sofrimentos.

Havia dois grupos principais de Musas: as da Trácia e as da Beócia. As primeiras, vizinhas do monte Olimpo, são as Piérides; as outras, as da Beócia, habitam o Hélicon e estão mais ligadas a Apolo, que lhe dirige os cantos em torno da fonte de Hipocren, cujas águas favoreciam a inspiração poética.

Embora em Hesíodo já apareçam as nove Musas, esse número variava muito, até que na época clássica seu número, nomes e funções se fixaram: Calíope preside à poesia épica; Clio, à história; Polímnia à retórica; Euterpe, à música; Terpsícore, à dança; Érato, à lírica coral; Melpômene, à tragédia; Talia, à comédia; Urânia, à astronomia.

Atributos das Musas – Para compreendermos as honras que os antigos prestavam às Musas, devemos lembrar-nos de que nas épocas primitivas a poesia é um dos agentes mais poderosos da civilização. A arte representa as Musas sob a forma de jovens cobertas de longas túnicas; usam, às vezes, plumas na cabeça, como recordação da vitória obtida contra as sereias, mulheres-pássaros. As Musas foram sendo, pouco a pouco, caracterizadas por atributos especiais, e a arte reservou a cada uma delas um papel particular.

Clio, a musa da história, está caracterizada pelo rolo que segura.

Calíope preside aos poemas destinados a celebrar heróis. A escultura a representou sentada num rochedo do Parnaso; parece meditar e prepara-se para escrever versos em tabuinhas que segura numa das mãos.

A máscara trágica, a coroa báquica e o coturno de que está calçada Melpômene a dão a reconhecer por musa da tragédia. Usa, às vezes, os atributos de Herácles para exprimir o terror ; a sua coroa báquica lembra que a tragédia foi inventada para celebrar as festas de Baco. Há no Louvre uma estátua colossal de Melpômene que pertence à mais bela época da arte grega.

Terpsícore, Musa da poesia lírica, da dança e dos coros, está habitualmente coroada de louros e toca lira para animar a dança.

A máscara cômica, a coroa de Hera, o cajado de pastor, de que se serviam os atores na antiguidade, o tímpano ou tambor em uso nas festas báquicas são os atributos comuns de Talia, musa da comédia.

Erato é a Musa da poesia amorosa, e em geral empunha uma lira. Tinha Erato grande importância nas festas que se realizavam por ocasião das núpcias.

A Musa que preside à música, Euterpe, empunha uma flauta. Temos no Louvre várias estátuas de Euterpe notáveis. A Musa da música está, por vezes, acompanhada do corvo, ave de Apolo.

Urânia, Musa da astronomia, segura um globo numa das mãos e na outra um rádio, varinha que servia para indicar os sinais vistos no céu.

Polímnia, Musa da eloquência e da pantomima, está sempre envolta num grande manto e em atitude de meditação. Muitas vezes tem uma coroa de rosas. Uma belíssima estátua do Louvre a mostra apoiada ao rochedo do Parnaso, com a cabeça sustentada pelo braço direito. Está figurada na mesma posição num baixo-relevo representando a apoteose de Homero.

Nos monumentos antigos, Apolo aparece freqüentemente como condutor das Musas. Chama-se, então, Musagete, e usa uma longa túnica. Esse tema agradava bastante aos artistas da Renascença, que o representaram com freqüência. O belo quadro de Mantegna, que o catálogo do Louvre designa sob o nome de Parnaso, representa Apolo fazendo dançar as Musas ao som da lira, na presença de Ares, Afrodite e Eros colocados sobre uma elevação. No canto, Hermes empunhando um longo caduceu apóia-se sobre o cavalo Pégaso. Rafael, no célebre afresco do Vaticano, também coloca as Musas sob a presidência de Apolo, conforme à tradição, que as faz seguir o deus da lira. O próprio Apolo dança com as Musas, na famosa ronda das Musas, pintada por Jules Romain. O lugar das Musas era naturalmente assinalado nos sarcófagos, assim como as máscaras de teatro que ali vemos freqüentemente esculpidas. A vida era considerada um papel que cada um desempenhava ao passar pela terra, e quando era bem desempenhado, conduzia à ilha dos Venturosos. Todos esses velhos usos desapareceram pelo fim do império, e o papel civilizador que se atribuíra às Musas foi esquecido. Um dos últimos escritores pagãos, contemporâneo das invasões bárbaras, o historiador Zózimo, fala da destruição das imagens das Musas do Helicão, que haviam sido conservadas ainda na época de Constantino. “Então, diz ele, fez-se guerra às coisas santas, mas a destruição das Musas pelo fogo foi um presságio da ignorância em que o povo iria tombar.”

Dionísio, tão freqüentemente quanto Apolo, está representado conduzindo o coro das Musas, e até parece que acabou por ter mais importância em tal papel do que o deus de Delfos. A inspiração vem da ebriedade divina, e aliás Dionísio é o inventor do teatro. No coro das Musas, a declamação não podia deixar de ocupar o seu posto ao lado da invenção.

O magnífico túmulo conhecido pelo nome de Sarcófago das musas, no Louvre, foi descoberto no começo do século XVIII, a uma légua de Roma, na estrada de Ostia. O baixo-relevo principal representa as nove Musas, caracterizadas pelos seus atributos distintivos. Calíope, empunhando o cetro está em companhia de Homero e Erato conversa com Sócrates: eis o tema dos dois baixos-relevos que ornam as faces laterais. Na lousa, vê-se um festim dionisíaco, em alusão às alegrias da vida futuro.
Pesquisa realizada em: www.mitologia.templodeapolo.net

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