O primeiro passo para romper laços é o protesto. Ana Carolina bateu a porta do carro e foi pensando… No rumo, no alento vital da liberdade – aproveitou o sinal vermelho – Luiz Cláudio atônito – cego aos sinais, rígido dentro de seu paletó símbolo suava racionalidade. Estavam casados há quase quatro anos, juntos na noite de núpcias pesavam 90 quilos de ternura, hoje os 190 quilos de rancor e magoa tornavam a realidade gravitacional insuportável. – Deixo você no ponto…Estou mais que atrasado…(testa franzida, olhar no infinito, dedos rijos grudados a Super Bonder no volante do carro do ano). – Como é que é?(Pasma, indicador na orelha de Luiz – unhas vermelhas de vaidade). – Este veículo é meu! – O seu? Se bem me lembro… Encontra-se morto após noite de farra. Seu jazido nunca visitado…A falta dos pagamentos de suaves prestações, o empurra a tal destino. Como vossa excelência esta convicta de sua magnitude no volante pediu-me de forma serviçal permissão para dirigir…Dada estas palavras…”Deixo você no ponto…” Sou obrigada a pedir-lhe com sarcasmo: – Fora!…Saia já do meu carro! Fora! Caso fosse necessário o guincho seria acionado para retirar tal estupidez do assento. Agora, sozinha no carro, Ana Carolina busca qual fase a da lua e que influencia benigna poderia ter deflagrado o desfecho tão providencial ao drama de seu matrimônio que se arrastava alheio às atividades dos seres envolvidos. Transpirando liberdade, com a boca do estômago em saltos mortais de ansiedade, ela acelera rumo ao desconhecido… Luiz Cláudio desembolsou sua maquina de fazer contas enumerou suas perdas materiais, no inusitado, a verdade dos prejuízos irrecuperáveis. Afinal… Um homem de bem é capaz de prever o futuro e ele havia sido estúpido em sua crença de que era para sempre seu destino com a fêmea que escolhera naquele antigo e já amarelado entardecer. Tomaria um táxi até a empresa, deixaria –se afundar na lama do compromisso. Necessitava colocar a mascara da responsabilidade e tornar rijo todos os músculos do seu masculino ser À noite em casa… Que casa? Bernadete (magra, nariguda, com dedos aspecto de extensão cibernética) sua fiel escudeira com certeza resolveria mais este pequeno obstáculo.
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